Oleaginosa é utilizada na produção de
biocombustível e outros produtos. Governo do Estado desenvolve e apoia ações de
incentivo ao cultivo
José Carlos Paiva
Encontrada em todo o país e abundante no estado, a
macaúba é uma palmeira nativa que tem várias utilidades
No Norte de Minas Gerais, um pequeno fruto, mas com
enorme potencial econômico, ganha cada vez mais espaço como alternativa de
renda para pequenos agricultores familiares. Encontrada em todo o país e
abundante no estado, a macaúba é uma palmeira nativa que tem “mil e uma
utilidades”: o óleo do seu fruto - um pequeno coco - serve de matéria-prima
para a produção de biodiesel e bioquerosene, mas todo o coco pode ser
reaproveitado na fabricação de diversos produtos.
A descoberta de uma extensa mata nativa, com
milhões de pés da palmeira, foi crucial para o desenvolvimento da comunidade
Riacho D’Antas, na zona rural de Montes Claros, que abrange também os
municípios de Brasília de Minas, Coração de Jesus e Mirabela.
Hoje, o fruto sustenta 400 famílias na região que
vivem da extração e produção de sabão em barra, óleo de amêndoa, óleo de polpa,
cosméticos, ração para alimentação animal, óleo para produção de biodiesel,
entre outros. No local, são extraídas e beneficiadas cerca de 450 toneladas
anuais.
“Há alguns anos, estávamos brigando
na Justiça com grandes agricultores daqui, que estavam secando o Rio Riachão
para a irrigação de feijão. Andando ao longo das margens, percebemos a
existência dessas palmeiras, e passamos a buscar alternativas para investir no
coco. Salvamos o rio e ainda descobrimos uma fonte de renda para as famílias
locais”.
João Elias Fonseca, gerente administrativo da
Cooperativa de Agricultores Familiares e Agroextrativista Ambiental do Vale do
Riachão (Cooper Riachão)
Em 2015, a cooperativa faturou R$ 260 mil somente
com a venda dos produtos do coco da macaúba. Instalada com recursos
viabilizados pelo Governo de Minas Gerais, a Unidade de Beneficiamento do coco
macaúba em Montes Claros aproveita tudo do fruto, da casca à castanha em seu
interior.
Dali, os produtos são comercializados na região e
até em outros estados. Recentemente, a unidade conquistou a certificação
ambiental da Roundtable on Sustainable Biomaterials (RSB). O processo atesta
que os biomateriais são éticos, sustentáveis e de origem credível.
“A Cooperativa Central do Cerrado compra o nosso
sabão em barra e em pó e vende no Mercado de Pinheiros, em São Paulo”, conta
Fonseca. “Também vendemos parte da nossa produção de óleo para a Petrobras e
temos outros compradores importantes em São Paulo, Distrito Federal e
Brasília”, completa.
Segundo o diretor de Captação, Qualificação e
Inclusão Regional do Sistema Sedinor/Idene, Davidson Dantas, a Secretaria de
Estado de Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e do Norte de
Minas (Sedinor) apoiou a instalação do Consórcio Macaúba Sustentável, uma rede
de municípios e produtores engajados no fortalecimento de empreendimentos como
o da Cooper Riachão. A secretaria faz parte do conselho do consórcio, que busca
fortalecer a atividade.
“Temos viabilizado parcerias que envolvem tanto a
comercialização quanto o desenvolvimento da atividade na região. Nosso papel é
facilitar a interlocução dos atores locais com as políticas públicas e os
agentes governamentais, em âmbito municipal, estadual e federal”, ressalta
Dantas.
O gerente administrativo da Cooper Riachão, João
Fonseca, aponta a melhoria na qualidade de vida das famílias que vivem da
extração do coco macaúba. “Toda a nossa produção tem destino. Não temos
produtos em estoque hoje, e o trabalho é para o ano todo. A macaúba é uma das
principais fontes de renda para as famílias, e tem evitado inclusive o êxodo
rural dos jovens na região”, comemora.
Moradora da zona rural de Montes Claros, Edilene
Martins, 34 anos, complementa sua renda com a extração da macaúba há cinco
anos. “No início, eram poucos produtos derivados e eles não tinham a qualidade
de hoje. A cooperativa busca o coco na minha casa e leva para a fábrica. Essa
renda me ajuda o ano inteiro”, relata.
Fomento à cadeia produtiva
A utilização da macaúba como fonte produtora de
energia renovável é regulamentada pela Lei nº 19.485/2011 – Pró-Macaúba. A
norma instituiu a política estadual de incentivo ao cultivo, à extração, à
comercialização, ao consumo e à transformação da macaúba e das demais palmeiras
oleaginosas.
A coordenação da execução da política cabe à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas
Gerais (Seapa), que tem como principais competências incentivar o
plantio, a comercialização e a industrialização da macaúba e das demais
palmeiras oleaginosas, estimular o beneficiamento dos produtos, coprodutos e
derivados, entre outras.
Como parte das ações desenvolvidas, a secretaria
celebrou, recentemente, um convênio com a Secretaria Especial de Agricultura
Familiar e Desenvolvimento Agrário, do Governo Federal, para fomentar a cadeia
produtiva de oleaginosas como a macaúba.
“Vamos montar 35 unidades técnicas de demonstração
em propriedades de agricultores familiares em todo o estado, para incentivar o
plantio da macaúba pelos produtores rurais”, explica o assessor técnico da
Seapa, Kamil Cheab.
Para tanto, serão investidos R$ 869.515,00. “O
projeto está dividido em cinco fases. Agora, estamos na primeira, que são os
estudos para reconhecer as áreas com maior potencial produtivo, considerando
inclusive aspectos logísticos. Depois será feita a escolha dos produtores que
vão receber as unidades técnicas demonstrativas e todas as mudas e insumos
necessários”, destaca Cheab.
A Emater-MG será
parceira no projeto, realizando a capacitação dos técnicos e dos produtores
para o manejo da cultura e também para o aproveitamento dos subprodutos do
fruto. Ao final, será elaborado um estudo de viabilidade econômica da
implantação da cadeia produtiva da macaúba no estado. A expectativa é que o
projeto seja concluído em dois anos.
Boas práticas de produção
Em Mirabela, um projeto realizado pela Fundação de
Educação para o Trabalho de Minas Gerais (Utramig), em parceria com
a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e
o Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene)
possibilitou a instalação de uma unidade produtiva e a capacitação da
comunidade local para a exploração sustentável da macaúba.
A unidade realiza o beneficiamento do fruto, cujo
óleo é utilizado na fabricação do biodiesel, e, a partir de seu resíduo, produz
ainda uma ração com alto valor proteico para alimentação de pequenos animais,
como galinhas caipiras e suínos, e também sabão em pó, em barra e o sabonete do
coco macaúba.
O coordenador do projeto na Utramig, Fernando
Madeira, relata que estão sendo feitos diversos cursos na região para o
aproveitamento do coco na culinária, já que a macaúba é rica em nutrientes,
fibras e betacaroteno. “Estamos ensinando a população local a produzir
sorvetes, picolés, bolos, trufas e barrinhas de cereal. Na unidade de Mirabela,
estamos produzindo ovos e trufas para a Páscoa”, conta Madeira.
Fonte: Agência Minas
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